30/08/12

Até à última página

“Não consigo ter saudades do que fui ou do que fiz. Assim como nunca gostei de ler um livro duas vezes, por melhor que ele fosse, nunca desejei voltar atrás para viver de novo ou repetir aquilo que me fez feliz. Sim, fui feliz. Muito e quase sempre. Não sinto arrependimento. Não fazia nada ou quase nada diferente, por mais erros e desvios que tenha cometido. Apenas não sinto que seja hoje quem fui ontem, assim como não serei amanhã quem hoje fui. Por isso, em cada dia, desapego-me do que fui do anterior, sem remorsos, nostalgias ou despedidas difíceis. Já pensei se este meu desapego por mim própria era fruto da pressa constante com que vivo, que não dá espaço a recordações ou tempo para as saudades. Mas creio que é apenas a minha natureza. Assim como na minha vida profissional não me sinto talhada para editora ou revisora, porque não gosto de planear, definir, nem de ler o que escrevi mais do que uma vez, o que me dá prazer na minha vida é recriar-me. Todos os dias virar um capítulo da minha vida e partir em busca dos seguintes, deixando-me conduzir para onde a minha personagem me leva, interagindo com todos aqueles que vivem comigo a história da minha vida. Até à última página.”

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