19/02/13

Da Arte

Talvez a arte não sirva para nada. Ou talvez sirva para muito daquilo que importa: agitar o mundo, sacudi-lo de fantasmas, de preconceitos, de visões redutoras e sentimentos retorcidos. A arte vê para além do horizonte, além das nuvens, por debaixo do chão. Vê mais longe, vê mais alto, mais fundo e mais dentro do mundo, em geral, e de todos nós, em particular. Pode compor, pintar, dançar ou escrever ilusões. Mas não será ilusão também tudo o que não se vê completamente, para além do que existe e do que já é e do qual estamos todos cansados que seja?
Nem sempre o artista é feliz, é certo. Não pela incompreensão dos outros, como às vezes se diz, mas porque empresta o seu corpo à violência da mudança. Às vezes vê mais, mais do que lhe é suportável ver. Para rasgar, às vezes rasga-se. Para quebrar, às vezes quebra-se. Sorte do artista que, ao permitir a reescrita do mundo, se reescreve também, sem se desfazer na ausência de sentido, na loucura que nem sempre consegue ver-se como missão.

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