23/03/13

Duas Faces

Se um dia morrer sem uma única resposta, não me olhem com tristeza julgando que não devia ter vivido com tantas perguntas.
Não me olham julgando que deveria desligar o pensamento. Desistir de pensar quem sou, para que sirvo, o que é o mundo e para que serve. De onde vimos, para onde vamos, porque existimos.
É talvez mais fácil viver sem pensar, anestesiado pela falta de tempo, pela urgência do fazer, pelas alegrias do acontecer. É talvez mais fácil e talvez melhor. Mas quem nasceu para se perguntar, nunca viverá satisfeito na ausência de respostas. O pensamento de quem precisa de pensar para respirar não se desliga. Pode não ser fácil, pode não ser bom, mas é o que é para quem existe para ser assim.
Tentar anestesiar, é apenas adiar o inevitável, porque o efeito da anestesia acaba um dia, porque anestesia em excesso mata.
Tentar calar com a urgência do fazer é rebentar o que de bom existe, porque é preciso fazer muito, demais, para calar o que se quer pensar.
Tentar viver apenas nas alegrias do acontecer é maravilhoso, mas não chega. É como viver apenas uma das faces da moeda, que um dia vai inevitavelmente girar no ar, cair no chão, ser o que nunca se foi. Assumir duas faces - ainda que elas não se entendam, ainda que os outros não o compreendam - é uma verdade melhor do que a mentira de uma felicidade que não se chega.

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