14/06/13

Pessoa e os seus heterónimos

Em dia de Fernando Pessoa, cruzei Portugal a folhear as Pessoas que há em mim. No Alentejo, Alberto Caeiro. Em Lisboa, Bernardo Soares. No cansaço, Álvaro de Campos. Em dias racionais, Ricardo Reis. Mais além, o próprio Pessoa. Nenhum deles completamente. Mas muitos outros, em partes diversas, por razões variadas, vagueando por mim, sempre que me disponibilizo para ser passagem, leito de rio com uma única foz, a da folha de papel.
Em potência, sinto-me a súmula de todas as coisas, de todas as pessoas, de todos os sentimentos. Coerente na aparente manifestação, vivo (ou sobrevivo) à incoerência de todas as personagens que me habitam, que querem ter voz através de mim, que me assaltam a mão para libertar o que nunca chegaram a dizer.
Peco por nunca ser uma. Mas, na escrita, nunca estarei só. E só não vivo em heterónimos porque o meu tempo - ao contrário do de Pessoa - é o da imagem. E eu sou apenas um corpo ao manifesto. Um rosto (sempre o mesmo rosto) que não sabe desdobrar-se para revelar a face de todos aqueles que por ele se expressam...

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