21/08/13

Da inquietude e da mudança

Desde que o mundo é mundo, que o Homem guerreia. Guerreia pela sobrevivência, por comida, por território, por poder. Impõe a guerra, mobiliza, manipula. Semeia nos outros Homens o desejo de vencer, a sede de competir, a necessidade de lutar.
Diz-se que a guerra é o que faz o mundo evoluir, mas que evolução é esta, sedimentada nos corpos daqueles que lutam? Germinada no sangue dos que combatem sem saber porquê? Pode o Homem ser verdadeiramente Homem, se combater o outro Homem? Será essa a nossa evolução? Ou haverá outra, aquela que verdadeiramente faça do Homem uma espécie que interesse a este mundo? Uma espécie que mereça sobreviver?
O mundo precisa de evoluir. O Homem precisa de evoluir. Mas enquanto o fizer pela guerra, será sempre uma evolução negativa. Destrutiva. Que magoa o Céu. Que contamina o planeta. Que mata o Homem, de fora para dentro, mas também de dentro para fora, naquilo que é o mais profundo em nós, o mais autêntico, o mais precioso.
Acredito que nenhuma evolução se pode fazer por imposição. Por mobilização. Por manipulação. Assim como acredito que evolução tem muito pouco que ver com território, riqueza ou poder. Se a evolução é, necessariamente colectiva, é também, necessariamente, e em primeiro lugar, individual. A verdadeira "guerra" é a do conhecimento. É a da busca da verdade. A do questionamento. A da inquietação. Pode ser igualmente violenta, interiormente, mas é, paradoxalmente, a única que pode mudar o mundo de forma pacífica. Que pode conduzir-nos à verdadeira e efetiva evolução. Se perdermos tempos a questionarmo-nos, não é possível que olhemos a Terra sem percebermos que não podemos continuar a destruí-la. Se perdermos tempo a questionarmo-nos, não é possível que entendamos a guerra. Que achemos que o Homem vive como tem de viver, num mundo sem tempo para si próprio ou para os outros, intoxicado de vícios, anestesiado pela televisão, condicionado no seu pensamento porque tudo que lhe é dito que pense.
É natural que os líderes que ainda entendem o mundo como um lugar de posse, nos tentem condicionar o pensamento, porque a guerra e a competição exigem um esforço colectivo, e esse esforço colectivo, para não ser imposto (o que é menos eficaz), precisa de ser incutido, e a melhor forma de o incutir é impedindo-nos de o questionar. Toda a intoxicação que nos é imposta apela a isso mesmo: a que trabalhemos sem questionar. A que consumamos sem questionar. A que vivamos sem questionar. A que façamos tudo o que nos dizem para fazer sem pensar uma única vez no porquê de tudo isso. Até que, necessariamente, alguém decide pensar e nasce a revolta. Violenta. Porque quem se revolta geralmente usa a mesma forma daqueles contra quem se revolta: incute a revolta. Manipula. Distorce. Intoxica e anestesia também, agora no sentido oposto.
Para o mundo ser mundo e o Homem voltar a ser Homem, devíamos desligar tudo aquilo que nos anestesia e intoxica à nossa volta, caminhar em direção à natureza e, um dia que fosse, perguntarmos a nós próprios: "O que penso realmente sobre isto tudo? O que quero ser? O que posso ser? O que é a vida? E o que é o Homem?". E, se as respostas não surgirem, no dia seguinte rumaríamos outra vez à natureza em busca de respostas. Ou olharíamos o céu. Ou o mar. Até que alguma resposta capaz de nos orientar efetivamente, de nos fazer felizes, nos surgisse.
É difícil que assim seja. Talvez alguém o faça, mas demorará muito tempo até que essa mudança se note, porque serão muito poucos. A única forma de o tornar rápido, eficaz e potenciar uma mudança efetiva, é talvez ensinarmos às nossas crianças que elas são livres para o fazer. É explicar-lhes que o mundo pode ser tudo o que elas quiserem. Elas que corram no campo e nadem no mar e encontrem as suas próprias respostas. O mundo que lhe demos, falhou. Elas terão de encontrar o seu. Questionarem o nosso. Recomeçarem. Encontrarem um outro sentido para isto tudo. Talvez cheguem a conclusões diferentes. Talvez experimentem modelos diferentes e alguns não funcionem. Então dialoguem. Não compitam, entreajudem-se. Não reunam exércitos. Mostrem os seus exemplos e esperem que os outros os sigam. Ou não. Vejam então por que não. Talvez esses tenham exemplos melhores. Disponibilizem-se para a vida. Acreditem na mudança. Essa será a única forma de evoluirmos de forma positiva. Necessária. Efetiva. De o mundo continuar a ser mundo e o Homem ser verdadeiramente Homem.

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