05/02/14

Da Árvore da Vida

Somos sementes na escuridão. Muitas, perdidas na terra densa, tentando fugir dos vermes que se alimentam de nós. Procurando água. Procurando luz. Procurando uma vida que dê sentido ao momento em que nos libertámos da grande árvore e caímos na terra, ainda que a memória dessa queda não exista em nós, ou seja apenas uma ideia vaga que tentamos negar.
Podemos viver uma vida inteira na escuridão, pensando que nada mais existe do que ela. Ansiando por algo que não sabemos o que é, às vezes fazendo o que for possível para esquecer que essa busca está em nós, outras vezes levando os outros a fugir também, criando fantasmas que só existem no medo de existir que ensombrece cada um de nós.
A verdade é que podemos, ao invés, esquecer por um momento que seja o medo de existir e olhar para dentro de nós, na tentativa de entender o que buscamos. Porque buscamos. Quem somos e o que podemos vir a ser, se fizermos por isso. E é então que algumas sementes percebem que podem crescer, ramificar-se, alastrar-se, e empreender essa busca fora de si até brotarem da terra. Sim, é possível. Sim, elas conseguem. E vislumbram dessa forma a beleza inegualável do céu, sentem a chuva morna e o calor do sol. Maravilham-se com a existência e contemplam a vida em todo o seu esplendor. É certo que os perigos também existem, desse lado da vida. A chuva pode ser violenta e o sol pode queimar. Outros predadores vorazes podem estar à espreita. Mas espreitar um pouco mais da vida é sempre um risco enriquecedor, porque é desse lado que a vida começa verdadeiramente a ser vida. Seremos ainda caule, depois tronco tímido, árvore frágil durante muito tempo. Se viveremos o suficiente ou da forma necessária para dar flores e frutos, não o sabemos. Se um dia chegaremos mesmo a lançar as nossas próprias sementes à Terra, não podemos adivinhar. Mas a descoberta desse outro lado é já, por si só, uma etapa poderosa da nossa evolução. Um passo importante e decisivo para que um dia consigamos, por fim e em conjunto, construir um lindo jardim junto da frondosa árvore que nos criou...

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