09/02/13

Olhar a Vida

Em Barcelona fui vizinha de um poeta que limpava casas para ganhar vida. Não era um poeta qualquer. Tão pouco um empregado da limpeza comum. Ele via imagens nos azulejos sujos, música nas carpetes a arejar ao vento, e poesia no vai e vem da vassoura pelo chão pisado. Sempre que colocava as suas luvas brancas para trabalhar, começava a nascer-lhe um poema. Perdi-o, algures na pressa de viver, mas ficou-me a ideia (ou quiçá apenas a saborosa ilusão) de que qualquer vida tem a sua poesia. E que a beleza das coisas - assim como a sua inquietude - não está nas coisas em si, mas nos olhos com que as vemos. São eles, em grande medida, a balança do nosso sentir.

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