31/03/13

Escrever

Desengane-se quem pensa que se escreve por coisa alguma.
Inventam-se razões. Explicam-se sentidos, que podem surgir a posteriori. Mas a priori, quem escreve, escreve porque tem que escrever. Numa ausência de sentido que é, para o escritor, a única fonte de significado.
No momento em que o escritor percebe que escreve só porque tem que escrever, entende que a mão não é dele e as palavras não são suas. O que para si é uma estranha urgência, não tem talvez significado para si, porque talvez o escritor, em si mesmo, não importe. Só importa aquilo que ele escrever. Não para que ele próprio encontre o seu significado, mas porque outros terão de o descobrir naquilo que foi escrito.
O escritor não vale, assim, por si. Por isso dificilmente um escritor se sente grande. É pequeno, perante aquilo que teve que escrever. Será sempre pequeno, na sua falta de sentido para o que fez, ainda que outros tenham descoberto no que ele fez todos os significados do mundo.
Escrever é, por isso, uma espécie de crença cega. Não se entendem os porquês, mas é preciso escrever o que se escreve. Não se sabe para que servirá, mas ainda assim terá de ser feito. Porque sim e nada mais. E, paradoxalmente (e talvez assim seja para tudo na vida) fazer-se algo porque sim e nada mais, talvez seja verdadeiramente fazer aquilo que não pode deixar de ser feito.

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