06/03/13

O paradigma do trabalho

O homem não é o seu trabalho. O homem tem de ser mais do que o seu trabalho. Quem nos vendeu esta ilusão de que devíamos estudar a vida inteira para ter um trabalho, e trabalhar o resto da vida para um dia viver daquilo que o trabalho nos rendeu?
Hoje, não somos mais o nosso trabalho. Porque não há trabalho. Mas também não sabemos ser mais do que o nosso trabalho, porque a maioria de nós nunca aprendeu a ser mais do que ele. A ilusão desfez-se. Podemos estudar uma vida inteira para trabalho algum. E trabalhar uma vida inteira para rendimento algum.
Talvez a solução passe por voltar a haver trabalho. Mas eu acredito mais (ou em paralelo) numa solução que passe por sermos mais do que o nosso trabalho. Porque na verdade, no mundo que temos (veremos o que virá depois) não podemos não estudar. Não podemos não trabalhar. Mas podemos, talvez, começar a estudar por outras razões que não sejam a de ter um bom trabalho. E podemos trabalhar por outras razões que não sejam a de ter um rendimento. Podemos estudar para saber. ("Conhece-te. Molda-te. E descobrirás em ti de que forma poderás vir a ser útil") E trabalhar para fazer crescer. ("Constrói. Evolui. Contribui. É essa a tua grande riqueza") A mudança de paradigma é subtil. Mas acredito, talvez na minha inocência, de que poderá fazer diferença numa sociedade que terá de se reencontrar. Num homem que terá de voltar a ser homem.


"Tanto ação, labor e trabalho estão relacionados com o conceito de “Vita Activa”. Para os antigos, a “Vita Activa” é ocupação, inquietude, desassossego. O homem, no sentido dado pelos gregos antigos, só é capaz de tornar-se homem quando se distancia da “vida activa” e se aproxima da vida reflexiva, contemplativa. É justamente nessa visão de mundo grega que os escravos não são considerados homens. O escravo ao ocupar a maior parte de seu tempo em tarefas que visam somente à sobrevivência de si e de outros, é destituído do conceito grego de homem, mas por outro lado ele não deixa de ser humano. Portanto, dentro dessa lógica só é homem aquele que tem tempo para pensar, refletir, contemplar. Nietzsche afirma em seu “Humano, desmasiado humano” que, aquele que não reserva, pelo menos, ¾ do dia para si é um escravo."
(http://www.mundodosfilosofos.com.br/a-condicao-humana-hannah-arendtt.htm#ixzz2Mo9xJJo1)

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