06/06/13

Sobre a liderança

Desde que o homem é homem que sabe que lhe é difícil sobreviver sozinho. Nunca foi um animal solitário, sempre gregário. Tinha o seu grupo, a sua tribo, a sua família... o seu bairro, a sua terra, o seu país, o seu continente. Agregou-se porque precisa de pertencer a algo. E um grupo, seja ele qual for, precisa de um líder. Um líder em que se acredite, que oriente, motive, oiça, resolva. Quando o grupo se torna grande, como o caso de um país, essa liderança pode ter subdivisões, outros líderes e pequenos líderes que liderem nas suas estruturas menores, mas em sintonia com essa liderança maior, em que todos deveriam acreditar.
O problema é que vivemos uma crise de liderança. A liderança, falando de forma generalizada (porque haverá sempre meritórias excepções) passou a ser um posto apetecível, mais do que exigente e de enorme responsabilidade, e a liderança passou a ser uma aspiração, mesmo de quem não tem a menor capacidade para tal. A guerra pela liderança passou a sobrepor-se à responsabilidade que é ser-se líder de um grupo. E o grupo passou a desconfiar dos seus líderes. A desconfiar de todos aqueles que o são e de todos aqueles que o pretendem ser.
A verdade é que, sem líderes, nunca poderemos ser um bom grupo. E isso afeta não só o grupo maior a que pertencemos (o continente, o país, a localidade) como depois também os grupos menores a que pertencemos. A desconfiança é a antítese do espírito de grupo. Uma equipa desportiva que desconfie do treinador, e depois desconfie do capitão, e depois desconfie de cada um dos jogadores, não poderá vencer um campeonato. Assim também um país que vive em regime de desconfiança generalizada nunca poderá vencer uma crise.

Na ausência de líderes em quem se confie, teríamos de reiventar novas formas de organização, que o suprimam. Mas conseguiremos viver em grupo sem líderes? Não creio. Ao mesmo tempo que não me parece que consigamos deixar de viver em grupos, porque somos gregários por natureza. E porque, em última instância, precisamos mesmo uns dos outros, para nossa sobrevivência. Se o humano passar a viver cada um por si, haverá uma guerra em cada esquina, porque o problema da desconfiança não só se manterá, como se agravará.

A solução passa, talvez, por voltarmos a ter líderes fortes. Líderes naturais que voltem a incutir confiança no grupo. Mas não creio que eles apareçam tão cedo. A existirem, não quererão liderar num regime de desconfiança como aquele que está instalado. Não quererão lutar contra a vontade de liderança de quem apenas deseja poder. Esses líderes, a existirem, terão receio da sua capacidade de liderança. Preferirão negá-la a impô-la num sistema subvertido à partida.
Não acredito, portanto, que encontremos esses líderes. Mas acredito que poderemos formá-los. Em uma ou duas gerações, se quisermos, poderemos formar crianças que entendam o que é a verdadeira liderança, que a respeitem, e que saibam trabalhar como grupo com vista a um objetivo comum. É no ensino e no apoio às famílias que pode estar a solução. É nos pais, professores e educadores que pode estar, neste momento, a capacidade de resolver este problema do país, que é extensível à maioria dos outros países também, eu diria mesmo ao ser humano em geral.



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