05/08/13

Raízes de mim

Hoje, no espelho onde todos os dias me olho sem realmente me ver, descobri um rosto novo, coberto de raízes. Grossas tranças percorrendo-me as maçãs do rosto, as faces rosadas, o queixo curto, por debaixo da pele morena.
Quando me transformei em árvore, não sei. Mas o meu corpo não me pareceu mais frágil como antes. Por debaixo da pele fina, como folha de papel, uma malha de vidas vividas a sulcar-me o rosto. Traços de vidas que perdi, histórias que esqueci, tempos outros, meus, de todos ou de ninguém, enraizados em mim, por debaixo da pele visível.
Mas se eu sou raiz, onde floresce a minha árvore? Sou alimento de quê e para quem? Ou seremos todos, de dentro para fora, alimento daquilo que em nós é visível?

(Os neurónios do córtice humano, segundo o pintor Greg Dunn, que é também doutorado em neurociência)

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