16/10/13

A vi(r)agem

Páro. Olho à minha volta. Porque corremos todos para lugar nenhum?
Sei que é impossível parar. Num mundo em necessário movimento, parar é necessariamente deixar de viver. Mas enquanto o meu corpo se move nessa necessidade, a cabeça estagna na impossibilidade moral de continuar a ir para onde todos vão sem pensar. O meu corpo não pára, mas a cabeça olha à volta, descobrindo tantos outros que, sem parar, encaminham já o seu corpo para onde pensaram poder ir. Chamam-lhe loucos. Mas não será loucura maior a de nos perguntarmos porque teremos de ir para onde nos mandam? E se não for esse o caminho? E se a Humanidade seguir enganada, na ilusão de uma caminhada sem alternativas, na certeza insana de uma trajetória obrigatória?
Se não fosse a voz dos loucos, que tantas vezes, ao longo da História, pensaram diferente e levaram o seu corpo para onde a sua verdadeira vontade os guiou (tantas vezes pagando-o com a própria vida), o que seria hoje do Homem? Existiria ainda Humanidade?
É urgente perguntar para onde nos dirigimos todos. É premente interrogarmo-nos se a vida melhor e o progresso que nos dizem estar além, no horizonte que buscamos, não é somente um abismo, a queda abrupta para uma não-existência sem retorno.
Não sei ainda ao certo para onde irei. Mas sei que não vou mais por onde o coração me diga que não vá. Porque o caminho verdadeiro há-de ser sempre aquele que nos surge de dentro para fora, nunca aquele que, de fora para dentro, nos impelem a seguirmos sem o questionarmos. A natureza segue o seu rumo, sempre, sem precisar de se questionar, porque nunca se afastou do movimento perfeito, nunca caiu na ilusão da superioridade. O Homem, imperfeito pela sua vontade de ser perfeito, inferior pela sua sede de ser superior, precisa de voltar a encontrar o seu caminho, até poder segui-lo com a naturalidade, a perfeição e a superioridade da natureza à sua volta. E encontrar esse caminho é questionar o que a natureza (e a sua natureza) esperam dele. Só isso o fará sentir, finalmente, como um peixe na sua corrente ou um pássaro na sua rota. Buscando instintivamente aquilo que sempre esteve à sua espera, para lá do medo, da tentação do poder e do preconceito.
E se seguir para uma nova encruzilhada, será sempre a encruzilhada que escolheu, o fruto de um engano consciente, de uma vontade de fazer diferente, melhor, pelo menos em essência. Isso será já tanto, ou já tudo, sobretudo se existir a lucidez suficiente para, conscientemente, na consciência do engano, voltar a procurar alternativas, porque há sempre alternativas para aquilo que não nos serve mais.

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