06/11/13

O Ciclo da Vida

Com uma nova crónica "Mais Alentejo" a ganhar forma, partilho convosco a da edição anterior. Será que a Humanidade em geral e o Homem em particular evoluem num ciclo similar?

"O ciclo da vida

Costumo pensar que, na vida de cada um de nós, em particular, podemos ler um trajeto de evolução similar ao de todos nós, em geral. O Homem, enquanto espécie, nasceu, ergueu-se, descobriu os primeiros “brinquedos” e começou a tentar medir forças com as outras criaturas que estavam à sua volta. Vivia para si e por si, pela sua sobrevivência. Com medos. Sustos. Formas inocentes de ver o mundo e interpretações fantasiosas para explicar o que ainda não entendia.
Até que percebe que não está sozinho, nesta sua descoberta. Na idade da socialização, o Homem descobre que não precisa de medir constantemente forças com as outras criaturas. Ao invés, pode interagir com elas. Divertir-se. Colaborar. Construir em conjunto. O Homem começa então a formar comunidades. A funcionar em grupo e a dividir tarefas. Percebe que a inteligência lhe pode valer tanto ou mais do que a força, e que é importante que exista quem decida, quem lidere, quem planeie, quem coordene e quem obedeça. A competição pode ainda ser interna, mas se a comunidade funcionar, começa sim a competir com outras comunidades. E às vezes a competição é saudável mas outras não. Porque o Homem que antes queria ganhar sozinho, quer agora ganhar em grupo. Ter mais. Vencer. Conquistar. Dominar sobre os outros.
O Homem é agora um adolescente forte e apaixonado, cheio de garra, de sonhos e de ânsias de abraçar o mundo. Bélico, inconstante, ousado, inconsequente.
Até que a maturidade chega, com a idade, o fogo acalma e o Homem começa a medir as consequências. Já não se atira de cabeça na primeira aventura que lhe aparece. Preocupa-se mais em pôr a render o que tem. Fazer crescer. Se já não para os lados, para cima. Construir, fortalecer, enriquecer. O Homem torna-se um profissional e um pai de família. Cuida dos seus, acumula bens materiais, gera conforto, mas sacrifica-se. Sacrifica o seu tempo. Sacrifica a sua saúde. Sacrifica a natureza.
Até que uma maturidade ainda mais madura (talvez por ser a verdadeira) o faz parar e o Homem pergunta-se porque se sacrifica tanto e sacrifica o melhor que a vida lhe dá. Olha para trás e percebe o tanto que já perdeu, em lutas, em excessos, em sacrifícios. Procura soluções. Procura paz. Equilíbrio. Felicidade. Fecha o computador e volta a sair à rua. Sai da cidade e vai sentir o cheiro das flores do campo. Ou dar um mergulho numa praia deserta. Desliga o telemóvel e obriga o tempo a parar. Olha nos olhos dos olhos e abraça-os.
Creio que é aqui que o Homem, em geral, se encontra, no nosso país e um pouco por todo o mundo industrializado e consumista. Somos um Homem em busca de soluções que nos façam mais felizes. A perceber o que os excessos nos fizeram. A procurar formas de equilíbrio. A perceber que, num estilo de vida mais natural, mais próximo da natureza, mais tranquilo, mais verdadeiro com aquilo que somos, aproximamo-nos também mais de uma felicidade mais efetiva.
O que se seguirá com o Homem, em geral, só posso suspeitar, a partir daquilo que vejo no Homem individual. Aquele que, conseguindo encontrar o seu equilíbrio e a sua felicidade, a espalha à sua volta. Numa sociedade com um Homem equilibrado, feliz e em comunhão com aquele que é o seu lar natural, o planeta Terra, o Homem sente que já pode partir em paz. Como e para onde – pergunto-me em relação ao Homem individual mas também ao Homem geral - não sei. Mas estou em crer que um ciclo se fechará nesse momento, para que outro comece, porque sempre assim foi e sempre assim será, no particular e no geral...

Sara Rodi"

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