19/01/14

Da arte e do artista

A arte não vale pela arte. A arte vale pela capacidade de ver mais além. Talvez não a verdade, mas algo que nos aproxima a todos dessa verdade. E a arte, não valendo pela arte, precisa de chegar a todos, aos mais possível, para que a arte tenha valido a pena.
A cultura é a difusão dessa arte necessária. Vale por isso mesmo, mas nunca deverá perder a sua capacidade de mudança. Cristalizá-la, impedindo-a de se transformar e se adaptar a quem está a ver o que mais ninguém viu, é um atentado à própria arte. Uma subversão do que tem de acontecer para a arte continuar a fazer o mundo avançar e o homem evoluir.

Nem sempre o artista suporta a sua arte. Dotado de sensibilidade (antena poderosa de captação do que está para além do visível), dedica a sua vida a expressar o que mais ninguém vê. O que mais ninguém sente. O que mais ninguém ouve. Empresta o seu corpo à criação, difundindo-a não para que o seu nome se conheça e a sua figura se imortalize (embora tantos caiam nessa ilusão) mas para que aquilo que ele vê, sente ou ouve chegue a toda a gente. Ao mundo que precisa de mudar. Aos homens que precisam de evoluir. Se o artista for atrás do que os outros fazem, só porque é mais vendável, só para ser mais conhecido, não estará a fazer verdadeira arte. Não estará a ser o artista que o mundo e os Homens precisam. Ainda que, fazer o que mais ninguém fez, tantas vezes tenha custado ao artista a sua própria vida. Ou porque os outros só o compreendem tarde demais. Ou porque ele próprio se sente enlouquecer, por ver, sentir e ouvir o que o mundo e os homens dizem não ser possível.
O artista deveria poder sair da sua condição de artista e equilibrá-la com uma vida real. Fechar os olhos ao que vê, quando escreve, desenha, pinta, compõe, e viver como todos vivem, e como é tão bom viver. Mas nem sempre o consegue. Porque fechar os olhos é negar uma parte de si. Em situações extremas, é sentir que se está a perder tempo: o tempo em que é chamado a fazer o que tem de ser feito. Mas o equilíbrio é necessário, se o artista não se quiser perder na sua própria arte. E, por ser demasiado artista, nunca chegar a realmente viver...

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