04/09/14

Sou árvore

Quando o vento me afaga o rosto, sinto por debaixo da pele a seiva que me alimenta.
Abro os braços, como ramos que se estendem para abraçar a vida em todo o seu esplendor.
Os dedos, qual galhos irrequietos, espraiam-se em busca do céu que todo o meu corpo contempla.
E o meu corpo, que estação a estação endurece e se consolida, é tronco que suporta a quietude de um espaço e de um tempo onde ousou ser semeado.

Sou árvore, e hoje o meu corpo suporta o peso das crianças que se penduram nos meus ramos.
Sou abrigo de animais, calor ou sombra nas diferentes estações para as pequenas criaturas que em mim procuram segurança.
Sou árvore quieta, aprendendo a beleza de observar o movimento do mundo à minha volta, nas suas alegrias e tristezas, nas guerras e nos acordos de paz, nas estagnações e nas mudanças. O mundo avança, estação a estação, enquanto os meus cabelos de folhas verdes se agitam ao vento e a madeira do meu corpo é sulcada por rugas que registam em mim a história do mundo inteiro.

Já fui pássaro e corri os céus. Já fui peixe e desci às profundezas do oceano. Hoje sou árvore. Imóvel e contemplativa, sorrindo e chorando na paz profunda que me completa. E se a vida é isto, é já tudo. Até que o meu tronco seque ou seja arrancado à terra, continuarei a sorrir ao vento e a abraçar, quieta, o mundo que me viu despontar da terra.

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