17/10/15

Ao João

Somos criaturas do tempo
Medimo-lo: os anos, os meses, os dias, os minutos e os segundos
para que, perdidos, nos situemos
para que, esvaídos de sentido, ao tempo nos agarremos
ou simplesmente para que a nossa história tenha um princípio, um meio e um fim.
Um cedo, um tarde e um por fim.

E neste tempo inventado por mim
(porque experimento a ilusão da matéria,
que nasce, que cresce, que morre por fim)
não compreendo, como todos, o cedo
temo o tarde
e desejo um tempo em que tudo seja no tempo certo para mim.

Mas o tempo não existe
(como não existe o espaço)
Existe a aprendizagem, a experiência e a passagem
E por mais que a matéria, na sua ilusão efémera
nos rompa o peito de saudade do que já não existe
nos prenda às memórias retidas pelos sentidos do que já não tem forma
não existe um antes, um agora e um depois em tudo aquilo que importa
Existem aqueles que ganhamos
Nunca aqueles que perdemos
Porque nada se perde
Senão no tempo e no espaço que não existe fora daquilo a que, ilusoriamente, chamamos existência.

E todos aqueles que perdi
Sei hoje que os ganhei
Que eles me ganharam a mim
Que ganhámos tudo o que vivemos juntos
Neste tempo e neste espaço
E que, mesmo sendo a vida uma ilusão,
Nada do que nela vivemos foi em vão...

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