23/10/10

Despedidas

Recordo-me da primeira vez que perdi alguém. Olhei à volta, perdida, e constatei em choque que o mundo tinha continuado a girar. Só o meu é que tinha parado. Quando ganhei forças, corri, aos tropeções, atrás dos outros. Demorei algum tempo a apanhá-los, tive quedas, parei cansada muitas vezes. E quando os apanhei percebi que teria que aprender a suportar as perdas sem quebrar a engrenagem. Criei defesas. E quando voltei a perder alguém que me fazia falta, o meu mundo já parou menos. E hoje o meu mundo já não pára. O coração queixa-se, por dentro, mas as pernas continuam a caminhar, e o corpo deixa-se arrastar. Já não teima. Sabe que tem de ser. Um dia será ele a parar, e o mundo terá que continuar a avançar...
Não sei se isto é crescer. Não sei se isto é endurecer. Mas não pedi que a vida levasse quem me levou. Não posso culpar-me daquilo que em mim mudou.

2 comentários:

  1. Pois isso das perdas, Sara, também é coisa que me faz perder. Após uma certa perda, fiz, compulsivamente, o mórbido e masoquista exercício de 'matar' os que me são mais próximos, talvez para ver se suportaria, espécie de preparação. Suportei o exercício. Não sei se suportaria o real. Talvez. Dizem que sim, que se suporta.
    bj
    Paulo

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  2. Se pudesse, assinava por baixo.
    É a descrição PERFEITA do que se sente quando (pelo menos no meu caso) temos que lidar com uma grande perda logo assim para começar. E é verdade. Quando o meu pai morreu (há 6 anos, tinha eu 19)senti que caramba! o meu pai tinha morrido..e o dia seguinte veio, e o outro, e o mundo continuava com a sua rotina. Mas o meu pai tinha morrido! Como podia ser?
    E depois disto, senti exactamente o que diz no post: "e quando voltei a perder alguém que me fazia falta, o meu mundo já parou menos. E hoje o meu mundo já não pára. O coração queixa-se, por dentro, mas as pernas continuam a caminhar, e o corpo deixa-se arrastar".
    E cada vez que isto acontece, receio ter ficado mais fria. Racionalizo um pouco para nao me deixar afectar mt pela ideia, e hoje acho mesmo que faz parte do amadurecimento e do crescimento.
    A vida continua, e nós com ela.. (pelo menos até continuarmos).

    Gostei msm do post. Obrigada*

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