09/08/11

Encaremo-nos por favor!

Tenhamos por favor a humildade de nos olhar enquanto espécie. Tornámo-nos capazes de construir, mas sentimos compulsão por destruir. Aprendemos a organizar-nos, mas à primeira brecha soltamos o caos. Aprendemos a criar relações, mas rapidamente deixamos de nos suportar. Esforçamo-nos por gerar vida, mas somos capazes de matar por nada. Tínhamos tudo para sermos felizes, e pomos fim à vida perseguidos por uma infelicidade que nos destrói de dentro para fora.
Contemplemos por favor as outras espécies que nos rodeiam. Somos nós mais merecedores da natureza do que elas? Quando somos capazes do melhor mas também do pior? Seremos dignos da superioridade que advogamos? Encaremos uma formiga e perguntemo-nos em que somos melhores do que ela. Ela constrói formigueiros que não destrói por ganância, sede de poder ou loucura. Ela organiza-se sem exigir o caos. Ela vive em comunhão perfeita com as da sua espécie, sabe o seu papel e respeita o do outro. Gera vida e não acaba com a do seu semelhante. Se uma formiga morre, as outras largam as suas bagas e vão resgatá-la. Talvez a formiga não sinta felicidade, mas não enlouquece de uma infelicidade sem qualquer sentido. Talvez o problema seja exactamente esse. Fizeram-nos ou fizemo-nos com a ilusão de um sentido. E a sua ausência – porque nenhum sentido teria de existir para simplesmente existirmos – é aquilo que, mais cedo ou mais tarde, nos destruirá.

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