29/06/13

A crítica de Rute Moreira

Acabo de receber a primeira crítica escrita ao meu livro, daquela que foi também a primeira pessoa a lê-lo, depois de ele chegar ao mercado. Partilho-a, porque diz tudo aquilo que eu poderia alguma vez desejar que alguém pensasse (já não iria ao ponto de desejar que o escrevesse), depois de o ler. Foi escrito por uma amiga que me conhece profundamente, e isso faz toda a diferença a quem o ler. Mas foi também escrito por uma Mulher de quem eu prezo muitíssimo a inteligência e a percepção invulgar do mundo e dos Homens, o que faz toda a diferença para mim.

Obrigada, Rute Moreira. Pelas tuas palavras, que nunca esquecerei, mas sobretudo pela Mulher que és, e que continuará a marcar a minha vida.

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Enquanto Romance Histórico, “A Amante do Rei” cumpre todas as expectativas. Estruturado sob uma pesquisa rigorosa, centra-se numa época rica e emocionante da nossa história – o Terramoto de 1755, as reformas do Marquês de Pombal e o processo dos Távora. Escrito na primeira pessoa e no presente do indicativo, transporta-nos numa viagem no tempo para o quotidiano da época, explora e revela pormenores e acontecimentos que entusiasmam e prendem qualquer amante deste género literário.

Só que, “A Amante do Rei”, é muito mais do que um romance histórico. É uma obra que se supera nos seus objetivos e extravasa a sua natureza. Apesar do tom narrativo acessível e despretensioso, não fica aquém de importantes tratados filosóficos deterministas, provoca Rousseau e faz lembrar, pelo que nos perturba e na genica da prosa, José Saramago que sempre usou o que escrevia para se aquietar e desta forma partilhar as suas mais profundas inquietações sobre a condição humana e o que nos move.

Este livro poder-se-ia chamar um ensaio sobre o Poder, onde Maquiavel teria ainda algo a descobrir e também não ficaria mal numa estante de psicologia, onde aspiramos encontrar respostas para a compreensão, à luz das suas emoções, da dinâmica das decisões e escolhas do Ser Humano.
É uma obra pejada de reflexões sobre a vida e o modo como a vivemos, que constantemente nos surpreende com as mais diversas e irreverentes analogias. O paralelismo entre a descrição de uma Tourada e a Justiça, é apenas um de muitos exemplos de que nos obriga a questionarmo-nos, provocando novos paradigmas.

Como se tudo isto não fosse suficientemente arrebatador para uma obra só, a autora permitiu-se à ousadia de revelar, de forma despudorada e inconsequente, o “Santo Graal” do universo feminino. Segredos que só às mulheres que ousam visitar as profundezas da sua natureza, são revelados, com a condição tácita de os guardarem para além do que consideram ser guardar um segredo.

Se tivesse que escolher uma palavra para definir esta obra, diria que é revolucionária. E como mulher que sou, quebraria de imediato a regra que acabei de criar e usaria ainda outra palavra.

Esta obra é revolucionária por ser estritamente feminina na sua capacidade de polivalência – é um arrebatador romance; uma rigorosa descrição histórica, uma reflexão filosófica sobre o Determinismo e um tratado de psicologia sobre a importância do poder para os humanos e todas as formas que encontram para o exercer - onde o sexo tem a força que todos lhe reconhecemos mesmo que não o queiramos confessar.

Por último e em primeiro lugar, diria que esta obra é revolucionária porque é um acto de coragem da autora, na descrição do pensamento emocional da mulher a quem veste a pele.
Este dificílimo exercício de entrega e verdade obrigou a autora a superar-se na mestria da escrita e a transcender-se pessoalmente, desafiando os seus mais profundos medos e fazendo-nos desafiar os nossos.
D. Teresa é apenas a personificação do que existe de mais assustador - e por isso mesmo irresistível – na essência de cada mulher.

O que não vale a pena dizer, pois o leitor só irá perceber depois de percorrer as páginas deste livro, é que é uma obra profundamente inteligente, por ter a capacidade de expor à vista de todos os mais profundos segredos do universo feminino e, ainda assim, consegue mantê-los hermeticamente ocultos pelo inevitável Determinismo que até a autora está sujeita.

Não me perguntem pela outra palavra que usaria para descrever este romance pois, quando o lerem, perceberão certamente da inutilidade da pergunta e, consequentemente, da resposta.


Se alguém me pedisse para fazer uma crítica ao romance “A Amante do Rei”, seria assim que a faria.

Rute Moreira
29.06.2013
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