24/01/14

Tesouro perdido - DIA 1

Paradoxalmente, num tempo em que tanto se falta de carência, o que os meus olhos lêem do mundo é um grave problema de excessos. Excesso de informação sobre tudo e sobre todos, excesso de estímulos, excesso de alternativas, excesso de pressões, excessos de solicitações, excesso de prateleiras, de lojas, de marcas, de casas, de cheiros, de formas de poluir, formas de julgar e formas de atacar. Vivemos dias de verdadeira overdose, que nos empurra para aqui e para ali, que nos sacode e nos entope de urgências, incertezas e revoltas.
É certo que o excesso é a outra face da carência. No justo equilíbrio de todas as coisas, tudo o que sobra de um lado, faltará no outro. E assim sendo, com tudo aquilo que temos a mais dentro de nós, falta-nos tantas vezes tudo aquilo de que realmente precisamos. Silêncio. Tempo. Ar puro. Sorrisos reais. Abraços verdadeiros. Paz.
Onde nos deixámos, entre tantos excessos? Em que ponto nos perdemos, nesta corrida desenfreada para lugar nenhum? O que realmente sentimos e pensamos? O que realmente somos? Talvez um tesouro perdido numa caixa cheia de tralha. Um tesouro que nunca encontraremos se não tivermos a coragem de nos despejarmos. A ideia da caixa vazia pode até assustar-nos. Tememos que, ao despejar-nos, não encontremos tesouro algum. Mas a verdade é que em cada corpo bate um coração. Estamos vivos e a vida é essa oportunidade única de sentir um coração a pulsar dentro de nós, para que sejamos e façamos tudo aquilo que dê sentido a esse bater...

3 comentários:

  1. É verdade... sinto o mesmo. Há daqueles dias em que me imagino numa estação terminal de combóios com muita gente, havendo combóios para diversos destinos. No meio da multidão, os empurrões, puxões e tropeções impedem-me de chegar ao combóio certo. Toda arranhada e cansada de insistir na direção da linha pretendida, sou empurrada em sentido contrário acabando por embarcar num combóio qualquer. A confusão fez-me esquecer para onde queria ir. O objetivo inicial desvaneceu-se e prevaleceu a razão elementar de estar alí: mais do que "para onde?", o que importava era embarcar...


    P.S. - Gosto muito da forma como escreve.

    Vanessa Rodrigues

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  2. Somos muitos a senti-lo, Vanessa. Revejo-me totalmente na sua metáfora. Nem sempre é fácil, mas é preciso (quando é preciso) decidir não embarcar. Ficar para ver. Para pensar finalmente que viagem é esta. Para decidir efetivamente para onde queremos ir. Bem-haja, Vanessa! Quem sabe ainda nos cruzamos um dia num vagão qualquer desta vida...

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  3. De Facto sinto-me um pouco como refere A Vanessa num terminal de comboios... lembro-me de estar numa estação de metro e reparar na pressa com que as pessoas entravam no metro com que puxados por uma corrente que nos leva não sabemos bem para onde... reparei e decidi entrar devagar por que assim era possível, como que a evitar de ser puxado por essa corrente que nos leva não sei para onde, mas que acabo por ser arrastado também. Porém na esperança de conseguir afastar-me caso ela não me leve um bom porto. Penso que os nos alimenta é essa Esperança de um dia se encontrar solução...Eu diria por vezes é uma certa Fé que Algo superior segure a corda quando nós humanos já não sabemos bem para onde nos dirigimos, Apesar de acharmos que vivemos num mundo cheio de certezas explicadas pela Ciência. Sendo que ficamos muitas vezes espantados quando descobrimos que afinal a ciência falha em tantas situações da vida. deslocando-me no dito comboio da vida acabo por observar em muita coisa que acontece com outras Pessoas que vão na mesma corrente que eu, e apercebo-me que afinal a ciência tem tanta resposta para dar, dando como exemplo a ciência associada à medicina, são tantos os casos em que sinto o ciência tão frágil, quando por outro lado certos cientistas dizem estar bem perto de justificar a origem do universo e, com uma certa presunção, quase que querem dizer qual a origem do próprio Deus ou explicar pela ciência a inexistência do Mesmo. A quantidade de dinheiro gasta neste tipo de investigação, comparada com as necessidades no auxílio aos mais necessitados em todo o mundo, parece-me de um certo desumanismo. Pela razão sou levado a pensar que o caminho da ciência com toda a sua metodologia é lógico, mas o coração diz-me que não se trata apenas do que nos vai na cabeça... É uma grande Dom conseguir expressar os Nossos pensamentos e Nossos sentimentos pela escrita. Parabéns Sara Rodi.

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