27/02/15

Do Pássaro que me cativou

Podia ser só um pássaro que eu observava da minha janela todos os dias. Um pássaro no céu, como tantos outros. E eu alguém que o olhava de uma janela, como tanta gente.
Mas algo naquele pássaro me cativou. Era um pássaro agitado que batia furiosamente as suas asas. Depois, deixava-se escorregar pelo vento, cansado, para logo voltar ao seu ponto inicial e retomar o bater das asas, sem parar.
“De que lhe servem as asas se não percorre o céu?”, perguntei-me. “Porque se esforça tanto, se não sai do mesmo lugar?”.
Só então percebi porque me cativara aquele pássaro. É que aquele pássaro era eu, esbracejando sem sair da cadeira, indo e regressando aos mesmos erros, arriscando mas temendo, sonhando mas desistindo. O horizonte estava além e eu estava ali. O sol chamava-me todas as manhãs para um abraço fecundo e eu fechava-lhe a cortina.
Levantei-me da cadeira, abri as janelas e gritei-lhe: “Força, Pássaro! Avança sem medo! Tens asas… não desperdices o céu!”
E quase posso jurar que o ouvi gritar-me de volta: “Salta da cadeira, Humana! Vem cá para fora. Tens pernas… não desperdices a vida!”

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